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Mulheres em transformação por meio da agroecologia
Capacitação em quintais produtivos contribui para mulheres de várias realidades sociais em Minas Gerais
Nilma Pereira, 48 anos, cresceu no meio rural, aprendeu com os pais a plantar e a cuidar dos animais. Aos nove anos foi morar na cidade e teve várias ocupações: babá, cuidadora de idosos, doméstica, catadora de material reciclável. O tempo passou, veio o casamento e chegou um tempo em que Nilma e o companheiro ficaram desempregados. Foram dois anos tentando uma recolocação profissional e sem perspectivas entraram para tráfico de drogas. Autuada pelo crime, em 2018 começou a cumprir a pena no Presídio Feminino de Eugenópolis, localizado na Zona da Mata Mineira.
Foi neste contexto, que ela foi convidada a fazer o curso Quintais Produtivos para mulheres em situação de vulnerabilidade social, para que elas pudessem aprender os conceitos de agroecologia e produzir alimentos. “Eu saí da roça aos nove anos, então fazer este curso significou para mim um retorno a minha infância”, afirma Nilma.
A iniciativa surgiu do Instituto Cultural Boa Esperança, que apresentou a proposta para o edital do Voluntariado da Fundação Banco do Brasil em 2017. O projeto foi executado em municípios da região metropolitana de Belo Horizonte e na cidade de Eugenópolis. Foram quatro capacitações de 80 horas, com a participação máxima de 15 mulheres, e os temas tratados eram relacionados com a construção de canteiros, mandalas, espiral de ervas, mini-viveiros e mudas.
A responsável pelo desenvolvimento do projeto no presídio, Célia da Consolação, avalia que a capacitação superou as expectativas e ajudou a melhorar a autoestima das mulheres. “Uma das mulheres queria plantar morango e teve oportunidade de semear, plantar e colher. Quando surgiram os primeiros frutos ela me disse: eu estou tendo a chance de comer o fruto do meu trabalho. É muito gratificante ouvir isto”, Célia se emociona ao falar.
Estudantes de escolas públicas da cidade também puderam visitar o canteiro, como forma de aprenderem conceitos sobre a agroecologia e de conhecerem a origem dos alimentos que consomem na escola. “Muita coisa que plantamos aqui doamos para creches e escolas, por isso isto estamos em busca de parceiros para continuarmos este projeto e dar oportunidade a outras mulheres que estão cumprindo pena. Das quinze que fizeram o curso, oito já estão em liberdade e queremos que esse projeto tenha vida longa”, explica Célia.
Nilma agora quer terminar de cumprir a pena (2020 ela estará em liberdade) e retomar as atividades da infância. “Eu aprendi plantar brócolis, espinafre, e então quero sair daqui para voltar para roça”, finaliza.
Outras capacitações
Além do presídio feminino, os coordenadores do projeto pelo Instituto Cultural Boa Esperança George Helt e Reny Fonseca montaram as capacitações para mulheres assentadas de São Joaquim das Bicas, para mães de alunos de uma escola pública de Belo Horizonte e para mulheres idosas em Lagoa Santa.
Por serem moradoras de assentamento, já tinham conhecimento de agroecologia, mas foi uma oportunidade para aumentar a produção e comercializar o excedente. “A organização dessas mulheres, contribuiu, após as capacitações dos quintais produtivos, para a construção de uma cisterna para a produção de verduras e legumes, que ajuda na alimentação de suas famílias e para a comercialização em feiras agroecológicas” avalia George.
Em Belo Horizonte, a capacitação em quintais produtivos surgiu para melhorar a nutrição das crianças e adolescentes de uma escola pública. “Elas foram capacitadas, começaram a produzir e os alimentos foram incorporados na merenda dos estudantes para melhorar a qualidade da alimentação”, complementa Reny.
Não bastasse capacitar mulheres assentadas e mães, a última capacitação uniu agroecologia e acessibilidade. O grupo de mulheres da cidade de Lagoa Santa reúne mulheres acima dos 60 anos, que têm dificuldade de ficar descendo e levantando para adubar, semear, plantar e colher. Então, veio a ideia de um quintal produtivo suspenso. “Foi emocionante o resultado, porque este grupo de mulheres já tinha um conhecimento mais aprofundado em agroecologia e a construção do quintal elevado por meio de bombonas plásticas permitiu a elas cultivarem em pé aliando amor a agroecologia com acessibilidade”, finaliza George.
Food truck impulsionará comercialização de quitandas no interior de Minas Gerais
Aquisição do veículo está prevista no projeto “Quitanda sobre Rodas”, que beneficiará 140 produtoras familiares de Cataguases
Brevemente, o tradicional Café Rural produzido por agricultoras familiares de Cataguases (320 Km de Belo Horizonte), em Minas Gerais, ganhará ruas e eventos locais com o food truck que a Associação de Mulheres Rurais de Cataguases (AMURC) está adquirindo com apoio da Fundação Banco do Brasil. Orçado em R$ 298 mil, o projeto “Quitanda sobre Rodas” também possibilitará a estruturação de uma cozinha industrial e equipamentos para o box que a entidade mantém no Mercado do Produtor.
Maria Inês Oliveira Rocha, vice-presidente da AMURC, afirma que a execução do projeto impactará positivamente cerca de 140 famílias de pequenas produtoras em nove comunidades. Atualmente, a renda obtida com a comercialização dos produtos gera um incremento médio de 30% na renda familiar das associadas, calcula.
Produzidas com matéria-prima orgânica, as broas, biscoitos, bolos e o pastel de angu, entre outras quitandas, já foram reconhecidas por consultores da Associação das Cidades Histórias de Minas Gerais (ACHMG) como histórica e culturalmente autênticas, passando a compor o roteiro turístico da região. Além dos itens do Café Rural, as produtoras comercializam compotas, doces em barra e cristalizados, geleias, polpadas (espécie de doce de colher utilizado como sobremesa, recheio de bolos e acompanhamento de biscoitos) e licores, entre outros itens culinários produzidos com mão-de-obra familiar.
Atualmente, os alimentos são feitos nas cozinhas das produtoras e transportados em carros fretados, sem nenhuma estrutura para tal. Marlene Aparecida do Carmo Soares comercializa o Café Rural para eventos há cerca de 15 anos, junto com a amiga Vanderli Docelino Moisés. Moradora da comunidade da Glória, ela aposta na iniciativa para aumentar o lucro e facilitar o transporte até os locais dos eventos. “Hoje a gente paga até R$ 130 de frete, sem falar que os carros não são próprios para isso. Com esse food truck, a gente espera melhorar o ganho, a produção e a qualidade de vida”.
A divulgação deste projeto está relacionada aos seguintes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS:
Projeto no interior de Minas garante trabalho de jovens no campo
Iniciativa em Arinos, região Noroeste de Minas Gerais, oferece opções para atuar em hortas comunitárias, apicultura, plantio e processamento de baru, produção de fungicidas e repelentes biológicos
Warllei Oliveira tem 26 anos e um futuro promissor à frente. Técnico agrícola, o morador de Arinos (MG) é visto na região como referência na organização e mobilização das famílias para o manejo correto do extrativismo do baru, fruto típico do cerrado.
Entre 2016 e 2017, ele e outros 29 jovens de 15 a 26 anos receberam incentivo do projeto Juventude Rural para atuar em atividades que estimulassem a permanência do jovem no campo, com melhoria da renda, por meio da diversificação de empreendimentos econômicos voltados à agricultura familiar e de base agroecológica. Os participantes são filhos de agricultores familiares dos municípios de Arinos, Uruana de Minas e Riachinho, região do Urucuia Grande Sertão, no Noroeste de Minas, e estudantes do Instituto Federal Norte de Minas (IFNM) Campus Arinos, com vocação para o trabalho rural. O IFNM colaborou na implantação do projeto e no acompanhamento das atividades produtivas, com auxílio de professores nas atividades de formação, pesquisa e extensão.
O projeto é realizado pela Cooperativa de Agricultura Familiar Sustentável com Base na Economia Solidária (Copabase), em parceria com a Fundação Banco do Brasil, que investiu R$ 200 mil na implantação de cinco hortas comunitárias, uma unidade de processamento de baru e um núcleo de produção de fungicidas e repelentes biológicos. O recurso foi investido também na compra de equipamentos e insumos para uma unidade de produção de mel.
Na oportunidade oferecida pelo projeto, Warllei percebeu uma chance de crescer profissionalmente, assim como melhorar a vida da sua família e daqueles que estavam à sua volta. "Quando a Copabase nos ofereceu a chance de trabalhar no projeto, não tive dúvidas na escolha do baru, porque já tinha uma familiaridade com a cadeia produtiva. Logo em seguida, formei um grupo com seis famílias e me associei à cooperativa”, disse.
Após ingressar na iniciativa, o jovem mineiro contabilizou conquistas pessoais e coletivas. Ajudou a Copabase a aumentar o número de jovens cooperados de 6 para 30 e, com isso, melhorar os resultados em todas as atividades. Em 2017, a cooperativa coletou e comercializou 94 mil quilos de baru, vendidos para os Estados Unidos. A produção de castanha de baru ficou em 10 toneladas, sendo que 80% foram comercializadas para indústrias de alimentos orgânicos da cidade de São Paulo e os 20% restantes passaram por beneficiamento no galpão da cooperativa e vendidas em eventos, feiras e para consumidores finais.
Warllei conta com orgulho que o projeto lhe abriu um leque de possibilidades, com os cursos e capacitações. Ele conseguiu comprar uma chácara de 2 hectares, distante 3 quilômetros da cidade, onde já plantou 160 pés de baru e outras culturas. “Já colhi maracujá e mandioca na minha propriedade. O próximo passo é construir uma casa para tirar meus pais do aluguel”, concluiu.
Parceria de sucesso
Com quase dez anos de existência, a Cooperativa da Agricultura Familiar com Base na Economia Solidaria – COPABASE já executou mais de 25 convênios em parceria com a Fundação Banco do Brasil, com o objetivo de melhorar a vida das famílias. A entidade é constituída por cooperados que são, a maioria, agricultores familiares dos municípios da região do Vale do Rio Urucuia: Arinos, Bonfinópolis, Buritis, Chapada Gaúcha, Formoso, Pintópolis, Riachinho, Urucuia e Uruana de Minas. As atividades consistem principalmente em administrar e gerenciar o funcionamento das unidades de processamento de mel e frutas, além de comercialização e organização da produção de polpas de frutas, mel, baru, óleo de pequi, açúcar mascavo, farinha de mandioca e outros produtos da agricultura familiar.
Juventude Rural
O Juventude Rural surgiu para apoiar projetos de cooperativas e associações que buscam estruturar empreendimentos econômicos de grupos de jovens rurais de 15 a 29 anos. Com a parceira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), foram investidos R$ 8 milhões em projetos que estimulem o protagonismo dos jovens do campo, que fortaleçam práticas sustentáveis de cultivo agroecológico e uso da sociobiodiversidade. Ao todo, foram apoiados 48 projetos em todo país, selecionados via edital.
A divulgação deste assunto contempla quatro Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que fazem parte da Agenda da Organização das Nações Unidas com metas para o ano 2030.