Segunda, 01 Outubro 2018 14:05

Ong monta centros cirúrgicos dentro da floresta para atender comunidades na Amazônia

Escrito por Elizângela Araújo
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Portal   centros cirurgicos

Iniciativa da Associação Expedicionários da Saúde recebeu duas certificações do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, em 2015 e 2007

Possivelmente você já ouviu falar de organizações de ajuda médica e humanitária como Médicos Sem Fronteiras e Cruz Vermelha, mas talvez não conheça a organização não-governamental Associação Expedicionários da Saúde (EDS). A iniciativa consiste em montar um centro médico cirúrgico no meio da floresta para atender gratuitamente comunidades indígenas isoladas da Amazônia Brasileira, muitas das quais sequer falam ou compreendem português. De acordo com a associação, já foram realizadas cerca de 7.500 cirurgias e mais de 51 mil atendimentos em clínica médica, pediatria, ginecologia, oftalmologia, ortopedia e odontologia.

O trabalho é organizado e realizado por voluntários. Todos os anos, o grupo de cerca de 60 profissionais, entre médicos, enfermeiros e especialistas em logística, faz três expedições anuais para montar um centro cirúrgico no meio da floresta. De acordo com Marcia Abdala, coordenadora geral da associação, cada expedição custa em torno de R$ 2 milhões e conta com apoio de parceiros como Ministérios da Defesa e da Saúde, Funai e empresas como Pfizer, Positron, Johnson & Johnson e Cremer, entre outras.

A experiência resultou em duas tecnologias sociais certificadas pela Fundação Banco do Brasil: o Complexo Hospitalar Móvel Operando na Amazônia (2015) e o Centro Cirúrgico Móvel em Comunidades Indígenas (2007). De acordo com Abdala, até setembro deste ano, o grupo realizou 40 expedições, atendendo mais de 70 etnias diferentes nos estados do Amazonas, Acre, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia e Maranhão. “Cobrimos uma área geográfica maior que a França”, ilustra.

Cada expedição dura em torno de dez dias de atendimento e exige dos voluntários não só espírito aventureiro, mas muita disposição para aprender, como conta a médica cirurgiã Roberta Murasak. Ela calcula ter participado de 20 expedições desde 2007. O contato com realidades tão diferentes a fez entender que “o Brasil é muito diverso e que não se pode pensar num único modelo de saúde. O que funciona num grande centro como São Paulo talvez não funcione lá, e vice-versa”, explica.

Natural da capital paulista, Murasak afirma que o trabalho voluntário com os Expedicionários da Saúde é sua grande realização desde que se tornou médica. “A gente trabalha com foco em cuidar das pessoas, e essa é a essência da medicina, cuidar de pessoas que de outra forma não teriam acesso [a tratamento médico]”. No entanto, garante que ganhou muito mais do que doou. Sua primeira participação foi a convite de um colega, ainda na residência, o que ela considerou "um presente". A satisfação com o trabalho é tanta que sua filha, Ana Luísa Mayumi, engenheira química, e o sobrinho Diego Fontana, pediatra, já fazem parte da equipe de voluntários.

Mayumi conta que sempre gostou de fazer trabalho voluntário e cresceu incentivada pela mãe. Sua primeira expedição como membro da equipe de logística foi à aldeia Crispi, no médio Rio Purus, na divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia, em maio deste ano. “Fiz um pouco de tudo. Carreguei caixa, cavei vala no chão, ajudei na distribuição de óculos, ajudei a inserir prontuários no sistema”. Para ela, a maior motivação é ver o resultado do trabalho. “Ver uma pessoa chegar lá sem enxergar, passar por uma cirurgia de catarata e em poucos dias abrir um sorriso lindo quando tira o tampão e consegue ver novamente não tem preço”, afirma.

O pediatra Diego Fontana também mora em São Paulo e concilia o trabalho com as expedições. Ele conta que os relatos da tia despertaram sua vontade de fazer parte da equipe desde cedo, e no mês passado concretizou a primeira experiência como membro da equipe médica. Ele participou da expedição à aldeia Krikati, na divisa do Maranhão com Tocantins. “Achei incrível. Fui com o intuito de conhecer aquela cultura, de trocar o meu conhecimento com o deles, de aprender mesmo”. Os pacientes mais novos sequer falam português. “Nossa comunicação oral era com os adultos. Muitas crianças nunca tinham visto pessoas não indígenas, mas mesmo as mais ressabiadas eram muito colaborativas”, conta.

Apesar das alegrias e aprendizados, os expedicionários vez ou outra precisam lidar com a frustração de saber que seus pacientes ficarão sem atendimento depois que forem embora. “São populações muito à margem do sistema público de saúde”, explica.

Para o cacique Mirapá, líder do povo Baré, “o pessoal da EDS é uma surpresa”. “Surpresa, porque eles tiram as doenças bem rápido, durante dois três dias atendem centenas e centenas de indígenas”, explica. “A gente pra ser atendido na cidade somente quando é muito grave, grave mesmo. Gente até morre nas fileiras, desmaia. Aqui não, o atendimento é dia e noite, a hora que a gente chega é atendido... um atendimento bem especial mesmo”.

Impacto cultural
Marcia Abdala afirma que todas as expedições são preparadas com bastante antecedência. As equipes ouvem palestras de antropólogos para entender os costumes. Uma das preocupações da ONG é causar o mínimo impacto cultural e ambiental possível. “A ideia é manter o povo da floresta lá, pois sem eles a floresta não existe”. Além das parcerias, a Associação Expedicionários da Saúde conta com doações que podem ser feitas por meio do seu site (eds.org.br/).

Vida saudável
A atuação da EDS está alinhada com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) numero 3 da Organização das Nações Unidas (ONU):
Box ods 3

Esta matéria faz parte da série “Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil”, produzida pela Fundação BB com conteúdos sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que fazem parte da Agenda da Organização das Nações Unidas para o ano de 2030.


 

Ler 32999 vezes Última modificação em Segunda, 22 Outubro 2018 14:54

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