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Segunda, 01 Outubro 2018 14:07

Uma terra e duas águas

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Acesso à água garante segurança hídrica e alimentar no semiárido

A implantação de cisternas tem mudado a vida do sertanejo no semiárido brasileiro - região que abriga grande parte dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e o Norte de Minas Gerais. Após a realização do Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC) foram verificados resultados que apontam para redução de casos de doenças relacionadas a água contaminada, como diarreia, cólera e hepatite; a diminuição da sobrecarga para busca de água principalmente para mulheres e crianças, além da melhora significativa da qualidade da água consumida pelas famílias da região. A Fundação Banco do Brasil participou do programa em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e a Associação do Semiárido Brasileiro – ASA.

Para mensurar o impacto da transformação social da reaplicação de cisternas, a Fundação BB realiza frequentemente monitoramento e avaliação dos projetos por meio de visitas presenciais. Nos últimos meses, foram visitados projetos nos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, Paraíba e Piauí para avaliar o Programa junto aos participantes.

Eliseu Alexandre, assessor da Fundação BB, esteve em algumas das residências que receberam as cisternas e avalia que o sucesso da cisterna se deu por ser uma tecnologia social que possibilita o acesso à agua com qualidade para o consumo. “O sertanejo passou muito tempo sem água. A criação da cisterna resolve isso e melhora a qualidade. Encontramos muitas famílias nas cidades com poço ou água encanada, mas o recurso hídrico não é adequado ao consumo humano devido ao excesso de sal, por conta da formação rochosa por calcário”, avalia.

Joaquim Firmino dos Santos, que mora no município de Mata Grande, 270 km de distância da capital Maceió, em Alagoas, é uma destas pessoas que passaram a ter acesso a água por meio da cisterna de beber. “Eu demorava três horas por dia para pegar água. Hoje eu tenho um grande prazer e alegria, por ter água”, comemora o Seu Joaquim. Luzia Flor de Almeida, que reside no mesmo município, diz que coletava água no carro de boi, mas a água durava menos de três dias para as necessidades básicas da família.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, de 2012 a 2017 foi registrada a maior estiagem no semiárido, desde 1845. Em média, chove em torno de 800 milímetros por ano na região. Entre outubro de 2015 e setembro de 2016, no entanto, foram registrados apenas 588 mm de precipitação.

As perdas em decorrência desta seca poderiam ter sido piores, se não fosse a reaplicação das cisternas. Certificada como tecnologia social em 2001, e transformada em política pública, a cisterna de placa pré-moldada capta a água da chuva e a armazena para o consumo das famílias. O sistema utilizado permite o acúmulo de até 16 mil litros, que atende a necessidade de uma família de cinco pessoas pelo período de até oito meses. O equipamento é composto por encanamento simples para recolher água da chuva nos telhados das casas e reservatório no subsolo revestido com placas.

Cisterna de Água de Produção

Depois da implantação de mais de 1 milhão de cisternas no semiárido, a Fundação Banco do Brasil e a Associação do Semiárido Brasileiro – ASA – formaram nova parceria no inicio de 2017 no projeto P1+2 – Programa Uma Terra e Duas Águas – que tem como objetivo construir cisternas de água para beber e para produção com o objetivo de garantir a segurança hídrica e alimentar. Para receber a cisterna de produção, o participante já deve ter garantido o acesso á agua por meio de cisterna ou abastecimento de água pelo município.

O assessor da Fundação BB Eduardo Mesquita, monitorou projetos na Paraíba e Pernambuco, e verificou que a ASA estuda junto com o participante qual o perfil para produção daquela propriedade. “Pode ser criação de galinhas, suíno, hortaliças, que são usadas para o sustento da família e o excedente pode ser comercializado”, afirma.

Severino dos Santos Feitosa, da cidade de Mogeiro, localizada a 110 km de João Pessoa (PB), recebeu a cisterna de produção no começo deste ano. Hoje, ele já não precisa fazer feira porque tem uma horta com variedade de frutas, legumes e verduras. Assista ao vídeo.

Na Bahia, região de Jequié, distante 365 km de Salvador, os participantes também estão produzindo alimentos depois da implantação das cisternas de produção. A mudança pode ser verificada com as hortas que passaram a existir no meio da paisagem da seca. No período de chuva, os moradores continuam produzindo milho, mandioca, feijão para serem comercializados e no período de estiagem, plantam hortaliças para a subsistência.

Avaliação

O perfil socioeconômico das famílias atendidas no Programa P1+2 são, em sua maioria, pequenos agricultores familiares com renda média de R$ 450,00. A maior parte não possuem saneamento básico adequado, 52% usam a fossa que contamina o lençol freático e 41% não possuem acesso a nenhum tratamento de esgoto. Outro dado, é que 77% das famílias entrevistadas queimam o lixo sem nenhuma orientação ambiental e apenas 15% possuem coleta de lixo.

No momento, a Fundação BB conta com quatro projetos em execução para a construção de cerca de 8 mil cisternas entre água para beber e de produção no semiárido brasileiro, totalizando mais de 100 mil construídas. A água é essencial para a garantia da vida, mas o acesso a este recurso, não é viabilizado a todos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, 2,1 bilhões de pessoas em todo o mundo, não acessam água potável. Dentro deste contexto, o ODS 6 foi criado para assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento em âmbito mundial.

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Publicado em Série ODS