Agricultores familiares vão receber investimentos para beneficiamento e comercialização de produtos agroecológicos
Há uma visão distorcida da caatinga relacionada à seca e à miséria por ser um bioma brasileiro que possui longas estiagens. Nas últimas décadas os moradores da região desenvolveram técnicas para a convivência no semiárido que desconstroem a imagem de ser um lugar inabitável. A implantação das cisternas de água de beber e de produção tem contribuído para mostrar uma caatinga que produz alimentos e que gera renda.
O sertão do Araripe, interior de Pernambuco, é um exemplo desta mudança. Com o apoio do Centro de Assessoria e Apoio a Trabalhadores/as e Instituições Não Governamentais Alternativas - Caatinga, 11 municípios da região receberão investimento social de R$ 500 mil para ampliação e fortalecimento dos empreendimentos coletivos, apoio para a obtenção de certificação orgânica dos alimentos e consolidação das feiras agroecológicas.
A entidade foi uma das selecionadas no edital Ecoforte por meio do projeto Venda Certa II - fortalecimento da Rede de Agricultoras e Agricultores Experimentadores/as do Araripe (Rede Araripe) - que tem o apoio da Fundação Banco do Brasil e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A solenização da parceria ocorreu no dia 27 de junho, com a presença do prefeito de Ouricuri, Ricardo Ramos, representantes do Caatinga, dos agricultores familiares e o gerente do Banco do Brasil da agência Ouricuri, Anilton Tremanti Junior
A necessidade de unir e fortalecer a agricultura familiar foi destaque nas falas durante o evento. “Precisamos motivar, propagar e visibilizar a importância da produção das famílias agricultoras e isso fazemos melhor se fizermos juntos, em parceria”, afirmou o prefeito.
As famílias agricultoras reforçaram a necessidade de fortalecimento das organizações dos agricultores e agricultoras. “As organizações nascem da necessidade do povo, por isso são tão importantes e legitimas e precisam ser fortalecidas, a exemplo da rede Araripe”, disse Silvanete Lermen, da rede.
O projeto Venda Certa II vai apoiar 34 associações ligadas ao Caatinga para diversificar a produção e o acesso ao mercado, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e canais de comercialização solidários (feiras agroecológicas e vendas comunitárias). A rede contempla 34 associações das cidades de Araripina, Bodocó, Ouricuri, Exu, Santa Cruz, Ipubi, Araripe, Santa Filomena, Parnamirim, Trindade e Granito.
Os agricultores receberão equipamentos para manipulação e armazenamento de alimentos como barracas de feira, freezers, despolpadoras de frutas, compressores para máquina de extração de óleo, fogão industrial, mesas e cadeiras plásticas, balanças, embaladoras além de capacitação e assistência técnica.
Projeto Venda Certa I
As ações do Caatinga atendem diretamente 5.455 famílias agricultoras do semiárido que produzem para o consumo familiar e vendem os excedentes. Já foram estruturados sistemas de captação e manejo de água em 11.500 agroecossistemas familiares (sendo dez mil para a consumo e 1.500 para produção do território).
No projeto Venda Certa I, que também recebeu apoio do Ecoforte, as famílias receberam orientações sobre plantio, combate às pragas, capacitação em compostagem e biofertilizante natural para contribuir no aumento da produção. Na região, são produzidas hortaliças, legumes e frutas da caatinga como o umbu e cambuí.
Eliziane Tavares, agricultora familiar, há cinco anos no Caatinga, participou da primeira etapa e agora será uma das beneficiadas com a segunda. A agricultora já produz hortaliças que fornece para as escolas públicas de Ouricuri por meio do PNAE e agora quer receber a certificação agroecológica dos produtos para vender por um preço melhor. “As pessoas não reconhecem o valor do alimento agroecológico. O produto muitas vezes tem o tamanho menor, mas a qualidade é melhor e é bom para saúde”, afirma.
Além disso, o projeto a partir de agora dará condições para as famílias produzirem polpas de frutas e armazená-las de forma refrigerada. Segundo Eliziane atualmente há muita perda, porque não existe espaço adequado para armazenar a produção. “Por eu não ter freezer, perco muito alimento. Agora eu vou ter condições de armazenar as polpas de frutas até para levar à feira e vendê-las”, avalia.
Para a etapa II, existe a expectativa de beneficiamento da mandioca para a produção de derivados como pães e biscoitos, a compressão das sementes de algodão, gergelim e aroeira, para a produção de óleos e sabonetes, além da fabricação artesanal de doces com os frutos da região, como os doces de umbu e o do cacto xique-xique, muito comum na caatinga.